Fernando Pessoa 03 - Maria Bethânia & Rodrigo Leão, Mísia, Ana Laíns, Diogo Piçarra... (letra)

00:01 - O Método & Prece Intérprete: Rodrigo Leão (O Método, 15-08-2020, Casino Estoril) & Maria Bethânia (declama) Poema: Fernando Pessoa, 1912?, Páginas Íntimas e de Autointerpretação Música: Rodrigo Leão 03:34 - Autopsicografia Intérprete: Mísia, 2009 Poema: Fernando Pessoa, s. d., Poesias Música: Felipe Pinto 08:04 - Não sei quantas almas tenho Intérprete: Ana Laíns Poema: Fernando Pessoa, 24-8-1930, Novas Poesias Inéditas Música: Paulo Loureiro 10:25 - Sei bem que nunca serei ninguém Intérprete: Diogo Piçarra Poema: Fernando Pessoa, 8-7-1931, Odes de Ricardo Reis Música: Diogo Piçarra 13:36 - Sopra o vento Intérprete: Joana Amendoeira Poema: Fernando Pessoa, 27-12-1933, Poesias Inéditas (1930-1935) Música: Guillermo Alonso Iriarte 16:06 - Na ribeira deste rio Intérprete: Paulo Bragança, 1992 Poema: Fernando Pessoa, 2-10-1933, Poesias Música: Mário Pacheco Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa a 13 de junho de 1888 e morre, na mesma cidade, a 30 de novembro de 1935. Foi uma das mais brilhantes figuras da cultura portuguesa de sempre, considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa e da literatura universal. Uma das suas principais caraterísticas foi a capacidade de criar múltiplas personagens, conhecendo-se setenta e duas, entre heterónimos e pseudónimos. Poemas originais de Fernando Pessoa: __ Senhor, que és o céu e a terra, e que és a vida e a morte! __ Senhor, que és o céu e a terra, e que és a vida e a morte! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu! Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também. Onde nada está tu habitas e onde tudo estás — (o teu templo) — eis o teu corpo. Dá-me alma para te servir e alma para te amar. Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome. Torna-me puro como a água e alto como o céu. Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos. Faz com que eu saiba amar os outros como irmãos e servir-te como a um pai. [...] Minha vida seja digna da tua presença. Meu corpo seja digno da terra, tua cama. Minha alma possa aparecer diante de ti como um filho que volta ao lar. Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa adorar em mim; e torna-me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim; e torna-me claro como o dia para que eu te possa ver sempre em mim e rezar-te e adorar-te. Senhor, protege-me e ampara-me. Dá-me que eu me sinta teu. Senhor, livra-me de mim. 1912?, Páginas Íntimas e de Autointerpretação __ Autopsicografia __ O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração. s. d., Poesias __ Não sei quantas almas tenho __ Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem achei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem, Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: «Fui eu?» Deus sabe, porque o escreveu. 24-8-1930, Novas Poesias Inéditas __ Sim, sei bem __ Sim, sei bem Que nunca serei alguém. Sei de sobra Que nunca terei uma obra. Sei, enfim, Que nunca saberei de mim. Sim, mas agora, Enquanto dura esta hora, Este luar, estes ramos, Esta paz em que estamos, Deixem-me me crer O que nunca poderei ser. 8-7-1931, Odes de Ricardo Reis, Fernando Pessoa __ O vento sopra lá fora __ O vento sopra lá fora. Faz-me mais sozinho, e agora Porque não choro, ele chora. É um som abstrato e fundo. Vem do fim vago do mundo. Seu sentido é ser profundo. Diz-me que nada há em tudo. Que a virtude não é escudo E que o melhor é ser mudo. 27-12-1933, Poesias Inéditas (1930-1935) __ Na ribeira deste rio __ Na ribeira deste rio Ou na ribeira daquele Passam meus dias a fio. Nada me impede, me impele, Me dá calor ou dá frio. Vou vendo o que o rio faz Quando o rio não faz nada. Vejo os rastros que ele traz, Numa sequência arrastada, Do que ficou para trás. Vou vendo e vou meditando, Não bem no rio que passa Mas só no que estou pensando, Porque o bem dele é que faça Eu não ver que vai passando. Vou na ribeira do rio Que está aqui ou ali, E do seu curso me fio, Porque, se o vi ou não vi. Ele passa e eu confio. 2-10-1933, Poesias “Música feita em Portugal” Criei este canal para divulgar a música nacional, a língua portuguesa e a cultura lusófona. Todos os benefícios são rentabilizados pelos “proprietários dos direitos de autor”.
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