Não importam os problemas técnicos, as poucas imagens, os altos e baixos de qualidade. “Phono 73“, é um documento histórico --ainda que, infelizmente, incompleto.
Phono 73 foi um festival realizado no Palácio de Convenções do Anhembi, entre 11 e 13 de maio de 1973, com todo o elenco da Phonogram, hoje Universal. A multinacional tinha quase todos os grandes nomes da dita MPB e resolveu reuni-los em um grande evento de marketing --embora a palavra não fosse usual na época-- que também tinha um inevitável viés político, já que se vivia o período mais repressivo da ditadura militar.
“Os militares achavam que a gravadora estava cheia de comunistas, e os artistas nos viam como direitistas. Na verdade, o que nós queríamos era gravar boa música brasileira“, diz Armando Pittigliani, então diretor do departamento de serviços criativos (marketing no jargão de hoje) da Phonogram e diretor-geral do Phono 73.
O lado promocional era nítido, tanto que a gravadora, pouco antes do festival, reuniu os artistas para uma foto que usou em um anúncio com a frase “Só nos falta o Roberto“. Mas o Rei nunca foi.
O que importa hoje, no entanto, é outro lado: o da contestação, política e estética, o do registro de artistas em momentos tão criativos quanto tensos. O exemplo mais claro é o de Gil e Chico Buarque, que tinham acabado de compor --e ter censurada-- “Cálice“. Resolveram levar a música para o palco e tiveram os sons de seus microfones cortados por ordem de policiais.
O que vão pensar
O DVD dura apenas 35 minutos. Foi o que sobrou das imagens feitas na época por Guga de Oliveira. Como ele e a Phonogram não se acertaram, o filme planejado nunca saiu e os negativos de 35 mm foram se deteriorando.
Mas há imagens incríveis como a de Caetano Veloso totalmente performático em “A Volta da Asa Branca“ (Luiz Gonzaga/Zé Dantas): ele simula cantoria de cego, emenda outras músicas, joga-se no chão e dança como que em transe. Em outra cena, ele se ajoelha aos pés de Jorge Ben (Jor), enquanto este improvisa com Gil.
Vaias e beijos
Uma vaia --não-audível-- sofreu Elis Regina ao subir ao palco. Ela tinha cantado há pouco tempo nas Olimpíadas do Exército e sabia o que lhe esperava. Esperou as vaias diminuírem, atacou de “Cabaré“ (João Bosco/ Aldir Blanc) e foi ovacionada. Está no DVD, assim como a famosa foto de Maria Bethânia e Gal Costa beijando-se na boca.
Toquinho, Vinicius, Erasmo Carlos, Raul Seixas, Sérgio Sampaio, Jair Rodrigues, Wilson Simonal, Jorge Mautner, Wanderléa, Ronnie Von... Há mais e mais diversa gente nos CDs e no DVD. Não dá para chamar de “O canto de um povo“, como estava no encarte dos dois LPs originais e é o subtítulo da caixa. Mas é o canto de uma época em que se acreditava cantar em nome de um povo.
01 - “Caramba!“ / “Galileu da Galiléia“ / “Que Nega é essa?“ / “De Manhã“ / “Mas Que Nada“ – Jorge Ben
02 - “Meu Pai Oxalá“ – Toquinho e Vinicius
03 - “Cabaré“ – Elis Regina
04 - “Tutti Frutti“ / “Let Me Sing Let Me Sing“ / “As Minas do Rei Salomão“ – Raul Seixas
05 - “Cálice“ – Chico Buarque e Gilberto Gil
06 - “Cotidiano“ / “Baioque“ – Chico Buarque
07 - “Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua“ – Sérgio Sampaio
08 - “Sebastiana“ – Gal Costa
09 - “Rosa dos Ventos“ – Maria Bethânia
10 - “Oração da Mãe Menininha“ – Gal Costa e Maria Bethânia
11 - “Meio de Campo“ – Gilberto Gil
12 - “Jazz Potatoes“ / “Filhos de Gandhi“ – Gilberto Gil e Jorge Ben
13 - “A Volta da Asa Branca“ / “Eu Só Quero um Xodó“ / “Baião“ – Caetano Veloso